Ele estava muito cansado.
O suor escorria pelos seus cabelos e as roupas pesavam.
A estrada era poeirenta e ele não sentia nenhuma brisa.
Era quase meio dia.
Os pés ardiam. As correias das sandálias pareciam encolher com o sol abrasador.
A boca estava seca.
Ele podia sentir todo o cansaço que a longa caminhada trouxera.
Mas, de repente, lembrou-se para onde estava indo.
E um largo sorriso se abriu em sua face.
O ânimo voltou, e a lembrança daquele rosto querido aqueceu seu coração.
Ele queria chegar logo.
Apressou o passo.
Olhando para o céu de um azul profundo e brilhante, viu o Pai e já não se sentiu mais só.
Ao longe já podia avistar a casinha humilde.
Quase correndo, numa alegria juvenil, chegou à porta e chamou:
- Mãe?
Os passos apressados daquela pequenina mulher se fizeram ouvir de dentro da casa onde podia sentir um frescor quase surpreendente.
- Filho! Filho, que saudade!
Ela correu para ele e o abraçou forte, embora pequenina. Ele abaixou-se e sentiu o calor fresco daquele corpo tão conhecido, tão amado.
- Mãe!
- Entra, Filho. Tenho uma botija de água fria e fresca e fiz um almoço especial. Entra, filho. Chega até aqui.
- Mas, espera! Antes, antes de tudo, me deixa lavar os teus pés. Sente esta água fresca na bacia? Deixa-me massagear os dedos doloridos, o calcanhar crestado pelas caminhadas. Deixa-me refrescar esses pés adorados. Deixa-me enxugá-los e beijá-los até me cansar. Tenho tâmaras também, filho! Vem, agora, e come, e mata sua sede aqui, bem pertinho de mim.
Ela falava quase sem parar, embora sua voz fosse doce e calma.
- Está cansado, Filho? Vem, repousa tua cabeça em meu colo e deixa-me acariciar teus cabelos. Parece que foi há tanto tempo, Filho. Mas nunca, nunca, vou me esquecer dos teus cabelos macios e da sensação de cálido amor que tenho ao deslizar meus dedos sobre eles.
- Ah, meu filho. Descansa e dorme que eu velo por ti. Eu ficarei aqui, olhando para teu rosto e guardando cada pequeno detalhe...
As horas passaram tão rápido...
O sol se pôs e a noite começou a cair lentamente num céu alaranjado, avermelhado como fogo, sobre esparsas nuvens. Estrelas começaram a surgir.
Ele então despertou e disse:
- Mãe. Tenho que ir. Chegou a hora, Mãe.
- Oh, Filho, não podes ficar? Só mais um pouco?
- Não, Mãe.
Ele beijou os cabelos daquela pequenina mulher e mais uma vez sentiu o perfume, o qual aspirou profundamente.
- Eu entendo, Filho. Eu entendo. Meu espírito entende, mas meu coração sangra. Meus olhos choram. Mas eu te despeço. Vai, Filho. Faze o que tens de fazer. Mas, espera! Só mais um abraço, Filho. Só um último beijo de despedida.
Foi a vez dela acariciar novamente, mais uma vez, uma última vez, aqueles cabelos. Ele havia se ajoelhado para ficar mais perto dela, para melhor sentir seu perfume, para o abraço ser mais completo.
Beijou-a e mais uma vez se despediu.
- Adeus, Mãe.
- Adeus, meu Filho! Respondeu ela.
E ele saiu. Sem olhar para trás, até que a ouviu correr atrás dele e dizer:
- Jesus! Espere! Leva este bolo de mel que fiz para você e seus discípulos. Quase me esqueci!
As lágrimas rolavam pela face dela, uma expressão de dor atravessou rapidamente aquele rosto amado, enquanto o ouvia dizer:
- Obrigado, Mãe. A Deus.
- A Deus Filho. Meu Senhor! Meu Redentor!
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