Ele escolheu Você!


Lá está ele. Jesus. No jardim. No chão. Um homem ainda jovem. Roupas empapadas de suor. Ajoelhado. Suplicando. Cabelo grudado na testa molhada. Ele está angustiado.
Ouve-se um som no meio das árvores. Roncos. O olhar de Jesus atravessa o jardim em direção aos seus amigos tão queridos - estão dormindo. Recostados nos amplos troncos das árvores, eles se entregam ao sono. Não se comovem com as súplicas de Jesus. Não se abalam com sua angústia. Estão exaustos.

Jesus levanta-se, caminha por entre as sombras das árvores e agacha-se diante deles. "Por favor", ele suplica, "por favor permaneçam acordados comigo".

O Senhor do universo não quer ficar sozinho.

No entanto, entende o cansaço dos discípulos. Nas últimas horas, transmitiu-lhes muito mais informações do que eles poderiam assimilar. Os discípulos nunca haviam visto Jesus falar tanto. Nunca o haviam visto falar com tanta urgência. Suas palavras foram ardentes, inflamadas.

Quinta-feira...algumas horas antes da meia-noite.

Aproximava-se da meia noite quando eles saíram do cenáculo e desceram as ruas da cidade. Quase todos dormem, cansados. Os que permanecem acordados mal se dão conta daquele grupo de homens caminhando pela estrada pedregosa.

Atravessam o vale e sobem o caminho que conduz ao Getsemâni. A estrada é íngreme e eles param para descansar. Em algum lugar dentro dos muros da cidade, o décimo segundo discípulo esgueira-se rapidamente por uma rua. Ele trairá o homem que lavou seus pés. Seu coração foi requisitado pelo maligno a quem dera ouvidos. Ele corre para se encontrar com Caifás.

É o início do último encontro da batalha.

Ao olhar para a cidade de Jerusalém, Jesus vê o que os discípulos não conseguem. É ali, na periferia de Jerusalém, que a batalha terminará. Ele enxerga a encenação de Satanás. Vê a incursão dos demônios. Enxerga o maligno preparando o encontro final. O inimigo espreita como uma sombra. Satanás, o hospedeiro do ódio, tomou posse do coração de Judas e cochichou no ouvido de Caifás. Satanás, o senhor da morte, abriu as cavernas e preparou-se para receber a fonte de luz.

O inferno está em polvorosa.

A História registra esse fato como uma batalha dos judeus contra Jesus. Não é verdade. Foi uma batalha de Deus contra Satanás.

E Jesus sabia disso. Sabia que antes do término da batalha seria preso. Sabia que antes da vitória haveria a derrota. Sabia que antes do trono haveria o cálice. Sabia que antes da claridade do domingo haveria a escuridão da sexta-feira.

Dá meia volta e inicia a subida final em direção ao jardim. Ao chegar à entrada, ele pára e dirige o olhar a seus amigos. Será a última vez que os verá antes que eles o abandonem. Sabe o que farão quando os soldados chegarem. Sabe que a traição acontecerá em questão de minutos.

Mas ele não acusa. Não faz preleção. Ao contrário, ora. Seus últimos momentos com os discípulos são passados em oração. Suas palavras são tão eternas quanto as estrelas. E elas as ouvem.

Imagine-se nessa situação. A última hora passada com um filho. Os últimos momentos passados com alguém agonizante. A última visita a seu pai ou mãe. O que você diria? O que faria? Que palavras escolheria?

É importante notar que Jesus preferiu orar. Preferiu orar por nós. "Não rogo somente por estes homens, mas rogo também por aqueles que vierem a crer em mim por intermédio da palavra destes mesmos homens. Pai, rogo que todos os que crêem em mim sejam um... Rogo que também sejam eles em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste."

É importante notar que em sua última oração, Jesus intercedeu por você. É importante sublinhar seu amor em vermelho e destacá-lo em amarelo: "Rogo também por aqueles que vierem a crer em mim por intermédio da Palavra." Ele orou por você. Quando Jesus chegou ao jardim, você fazia parte de sua oração. Quando Jesus levantou os olhos ao céu, pensou em você. Quando Jesus imaginou o dia em que todos nós estaremos com ele, viu você ali.

Sua última oração foi por você. Seu último sofrimento foi por você. Seu último martírio foi por você.

Ele nunca se sentiu tão sozinho. Aquilo que tem de ser feito, só ele pode fazer. Anjo nenhum pode fazer. Anjo nenhum tem a força para abrir as portas do inferno. Homem nenhum pode fazer. Homem nenhum é puro ao ponto de destruir o pecado. Força nenhuma na terra pode enfrentar a força do mal e vencer - exceto Deus.

"O espírito está pronto, mas a carne é fraca", confessa Jesus.

Sua natureza humana suplica para que ele seja poupado daquilo que sua natureza divina tem o poder de enxergar. Jesus, o carpinteiro, implora, Jesus, o homem, vislumbra o abismo escuro e suplica: "Não existe outra maneira"?

Sabemos que ele suplicou para ser poupado. Sabemos que implorou. Sabemos que houve um momento em que poderia ter virado as costas e abandonado tudo.

Mas ele não fez isto.

Não fez porque viu você. Bem ali no centro de um mundo injusto. Viu você ser lançado involuntariamente na correnteza do rio da vida. Viu você ser traído por aqueles a quem ama. Viu você com o corpo enfermo e o coração combalido.Viu você em seu próprio jardim de árvores de galhos retorcidos e amigos sonolentos.Viu você fitando com os olhos arregalados o abismo de seus fracassos e a entrada de sua própria sepultura.

Viu você em seu próprio Jardim do Getsemâni - e não quis abandoná-lo.

Ele queria que você soubesse que ele estava ali. Ele sabe o que significa sofrer uma conspiração. Sabe o que significa estar confuso. Sabe o que significa ficar dividido entre duas situações. Sabe o que significa implorar a Deus para que ele mude de idéia e ouvi-lo dizer de modo gentil, porém firme: "Não."Foi o que Deus disse a Jesus. E Jesus aceita a resposta. Em um determinado momento naquela noite, um anjo de misericórdia paira sobre o corpo exausto do homem no jardim. E quando ele se levanta, a angústia desaparece de seu olhar. Seu punho não mais se crispará. Seu coração não mais lutará.

A batalha está vencida. Talvez você imagine que ela foi vencida no Gólgota. Não foi. Talvez você imagine que o símbolo da vitória seja a cruz. Não é. A batalha final foi vencida no Getsemâni. E o símbolo da vitória é a paz que Jesus sentiu no jardim das oliveiras.

Porque foi no jardim das oliveiras que Jesus tomou a decisão.

Ele preferiu atravessar o inferno por você a ir para o céu sem você!

(Adaptado do livro "Quando os Anjos Silenciaram" de Max Lucado)

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